CRÍTICA – Parasita (2019, Bong Joon-ho)

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CRÍTICA - Parasita (2019, Bong Joon-ho)

Meu. Pai. Amado. Parasita é a prova de que devo engolir minha língua antes de falar algo desconhecido.

Antes de mais nada, para quem ainda não ouviu falar sobre Parasita: o filme é um lançamento sul-coreano do diretor Bong Joon-ho, com estreia prevista para 7 de novembro.

O gênero do filme? Caos. Mas isso é ótimo, tem momentos em que devemos nos preocupar em simplesmente fazer a arte do que pensar aonde vamos categorizá-la. Porém já aviso que a classificação não vai ser menor do que 16 anos. Independente disso, no meio de mistério, comédia, suspense, drama, terror e “200 plot twists“, temos Parasita!

A história começa com o jovem Ki-woo (Choi Woo-shik) e sua família muito pobre, que vive em uma casinha que mais parece apenas um corredor no subterrâneo, com a janela entre a calçada e o subsolo. A família traz um ar jovial, e a quebra de clichês já começa aí. Não é um pai severo, uma mãe controladora, uma irmã birrenta e um jovem cansado e cheio de sonhos. O tom de comédia já entra na primeira cena, com o desespero pelo wi-fi da vizinha e a montagem de caixas de pizza, que garante uns trocos para a família Kim.

Buscando mais dinheiro, Ki-woo aceita um emprego oferecido por seu melhor amigo como professor de inglês particular para uma jovem de família rica, Da-hye (Jeong Ji-so). Nisso ele engana os pais de Da-hye, tenta colocar a irmã também para trabalhar na família Park e eu, todo sabichão-deus-da-razão fiquei “Ah, entendi, é uma comédia, ele vai enganar a família dos ricos pra toda a família dele trabalhar lá, no final eles descobrem, rola um momento dramático, ele casa com a menina e acabou, certo?” Errado. Mas muito errado. Mais errado impossível.

Até quem já está acostumado a consumir diversos tipos de arte às vezes esquece que nem tudo se resume a forma hollywoodiana da coisa, e Bong Joon-ho – que também dirigiu Okja, Expresso do Amanhã e Gwoemul: O Hospedeiro – trouxe um trabalho brilhante em Parasita, que não te deixa piscar em nenhum segundo – mesmo que suas 2h12 pareça muito.

O ritmo criado no longa é realmente impressionante, te levando a risadas gostosinhas, gargalhadas e do nada – boom – receio, medo, e até mesmo culpa por estar rindo 20 segundos atrás.



A fotografia merece um aplauso a parte. Tanto para a paleta de cores quanto pela direção de câmera, o clima criado em cada espaço do filme é reconhecível e o público consegue sentir isso.

A poesia é algo que também vemos bastante em filmes orientais, pois não é novidade que sua sabedoria é passada de geração em geração, e frases antigas tem grande poder ainda hoje. Algumas falas são muito reflexivas, e os símbolos que eles utilizam são realmente marcantes. Há uma cena em que a irmã de Ki-woo, Ki-jeong (Park So-dam), entra em um banheiro alagado. Há água de esgoto subindo por tudo, fezes voltando pelo vaso sanitário… Ela apenas senta-se em cima da tampa, pega um cigarro, abraça as pernas e fica fumando olhando para a parede. É tão perfeito para o momento do filme, e dialoga com a criação da personagem.

E falando no elenco, é muito interessante vermos o quão diferente é a atuação e composição de personagens pela ótica oriental. Parasita é um filme rico em cultura, que se você usar o mesmo roteiro e os mesmos personagens, pode ter certeza que será muito diferente em qualquer outra parte do mundo.

E, por fim, sua crítica social é a raiz mais forte. Desde os primeiros cinco minutos de filme o espectador provavelmente pensará: “Ah, então essa é a relação de parasita e hospedeiro“, aí você vê outra, e outra, e muda, e se inverte… E eu te convido a procurar todas as relações que conseguir encontrar no filme, e entender o quão claro é isso em nossa sociedade.

Nossa nota

Assista abaixo o trailer legendado:

Parasita será exibido durante a 43ª Mostra Internacional de Cinema, em São Paulo. Quer saber mais sobre a Mostra? clique aqui.

Mostra Internacional de Cinema ocorrerá entre 17 e 30 de outubro de 2019 em 34 salas de exibição. Lembre-se de voltar aqui para deixar seus comentários e sua avaliação.

Nota do público
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